Uns eram moços
sadios. Outros, já adultos, um pouco "loucos", mas ainda com tino
bastante para afugentarem os pardais que vinham ao grão dos lavradores.
Então, corriam de braços abertos, apanhando aqui e ali pedras do chão que logo arremessavam contra os intrusos, aos gritos como numa zanga a sério, enquanto os chocalhos, amarrados à cintura, a par de outros penduricalhos de ferro ou latão, se faziam ouvir em redor.
Então, corriam de braços abertos, apanhando aqui e ali pedras do chão que logo arremessavam contra os intrusos, aos gritos como numa zanga a sério, enquanto os chocalhos, amarrados à cintura, a par de outros penduricalhos de ferro ou latão, se faziam ouvir em redor.
Espanta-pássaros de
carne e osso, está visto, que procuravam
evitar a rapinagem do pão nas searas do Alentejo, e que apenas são relembrados por alguns velhos…
Hoje, contam-se os
espantalhos que restam nas hortas e pomares, não passando de uns esqueletos
quase sempre masculinos, envoltos em palha e trapos velhos, almofadados com uma
blusa, camisola, algum casacão esburacado.
Quando não se restringem
à configuração de meras silhuetas humanas, recortadas á serra numa tábua de
madeira, ou esculpidas a partir de um espesso e leve bloco de esferovite.
Sim,
porque um único ramo implantado na terra, donde se suspende uma saia rota, um
colorido saco de plástico, ou o testo de uma panela, não pode ser tomado como um
verdadeiro espantalho, apesar de, à mais ligeira deslocação do ar, a pendureza
se agitar, provocar ruído, soar a alarme….
Quanto
a mim, estes simples engenhos mais não são do que meros símbolos hasteados, significando qualquer linguagem obscura,
instrumentos mágicos contra o mau olhado; expedientes usados para fazerem
recair sobre alguém uma maldição, um mau feitiço, não sei!...
Mas
para o Zé da Bica, que trabalha numa oficina de mecânica de automóveis, e aos
fins de semana cuida de uma pequena parcela de terra na região saloia, não lhe
resta qualquer dúvida:
" sejam o que
forem, são coisas para meter medo aos pássaros! "
in Notícias Magazine, Novembro,1998 ( texto e fotos do autor)
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