Canso os pés
Na pedra da calçada
As mãos no saibro
De uma esquina
Arrasto um fardo
De terra preso
Ao fundo da boca
Coso e remendo
As minhas sílabas
Que são tantas
Quantos os poros
Do meu corpo
Prolongo-me no braço
A quem peço
Que me compre
Que me venda
Que me troque
Uma moeda
O olhar
De uma palavra
Alto Atlas
Esforço de dentes e raiva
Ante a dimensão da paisagem
E calar
Ter pronta a saliva
E não morder
Sentir apenas
O tato leve
Da semente
A forma
Nunca a síntese
Sempre
Aldeia a Sul
A prumo
A tua voz cai
No arco da duna
Uma raiz
Uma lágrima
Um poço
Perto
A porta aberta
Duma casa
Searas de Casablanca
Caminho de seara
No meio azul da pedra
Caminho de trigo
Que é o meu
A tempestade
Não governa a fome
A ordem da cidade
Não me cala a boca
Amanhã
Hei de falar com o sol
Dentro de casa
Direi que a FUGA fica ao sul onde mora a
memória e que o percurso das sílabas
não é fácil. Direi que, uma vez chegados
à ultima fronteira do texto, perdemos
para sempre o vago conceito de limite.
A partir daí é o excesso.