Exceção
É com os cotovelos
apoiados no vão da janela
que celebro a entrada de maio.
E saúdo o rapaz da bicicleta
suando, triunfante,
ao cortar a meta.
A vizinha que, à passagem
de cada avião,
sonha em voar alto.
O velho, outrora
praticante de judo e remo,
que não dispensa
o amparo das muletas.
E saúdo o meu neto
que, a passo acelerado,
dobra a esquina
e sobe ao meu andar
para me dar um beijo
e ligar a playstation
A rapariga amuada,
pelo namorado
a ter trocado por outra
menos anafada
Saúdo a Rosa
com uma doença
cujo nome
ninguém sabe qual seja.
E saúdo esta, aquela
outra e outra pessoa,
todas conhecidas minhas
quando as vejo passar.
Sequer a minha própria
sombra ignoro,
para me sentir em companhia
e com quem falar.
Só não saúdo a tua resposta
há cem anos por dar.
há cem anos por dar.
Lisboa, Maio,2014
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