segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Alves Redol

De cigarro na boca, e um pequeno bloco entre as mãos, parece desenhar. Mas não! O que faz, é escrevinhar os recortes dos montes, os penedos graníticos, os atalhos pedregosos, os sucalcos das vides que surpreende a partir de um ponto altaneiro e defronte ao Pinhão. Bem como as eiras, ainda nuas, à espera do momento da debulha e da desfolha;  o pouca-terra arfando, como se fugisse das suas próprias nuvens negras de fumo.
Só que não se confina apenas a escrevinhar o que a sua visão abarca, filtra, compõe, detalha e recria, que os sons também merecem umas linhas escritas no caderno... Como os chilreares alegres e os latidos alvoraçados; os silvos estridentes das sirenes e o badalar timbrado dos sinos; o gemido dos eixos dos carros arrastados pela parelha de bois; o restolhar do rio, redemoinhando por entre as fragas traiçoeiras, capazes de despedaçarem o coração de qualquer mareante.
Porém, e entre todos os sons, o mais eloquente: o das falas humanas, matéria que acabará por constituir o maior alimento na construção da escrita literária de Alves Redol em torno do rio Douro, tal como o havia feito com as estórias narradas pelas gentes avieiras do rio Tejo. (...)
V.F.Xira,Outubro,2014

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