Meinke Paay
Pela ocasião do falecimento do marido, a senhora Meinke Paay, solicitou aos parentes e amigos para dispensarem não só as flores, mas também as lágrimas durante o ato fúnebre.
A
verdade, é que apenas um pequeno ramo de tulipas vermelhas acompanhado por um
cartão, com uma assinatura de todo ilegível, foi deixado no velório. Quanto a
lágrimas, sequer uma, bem como o mais ligeiro soluço!
Acabado
o acompanhamento funéreo, e após as devidas saudações aos presentes, logo a
senhora Meinke Paay retomou o caminho de casa para cumprir os procedimentos
habituais: regar o canteiro; dar a ração ao seu peludo caniche e tomar o chã,
com duas ou três bolachas sem sal e outras tantas colheres de compota de
framboesa.
Porém,
mal transpôs a cancela do seu quintal, atónita, deparou com o seu caniche, sem
um único sopro de vida, jazendo ao pé das margaridas. Podia lá ser!... E como
haveria de conter aquele aflitivo desespero, a dor inconsolável de tamanha
perda?
Certo
é que volvido tanto tempo, bastará balbuciar o nome do caniche a uma vizinha
sua, para que a senhora Meinke Paay logo se apresse a embeber num lenço as
gotas de orvalho, que afloram aos seus olhos turvando-lhe a visão.
Lisboa, Abril, 2015
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