À memória de Raúl Brandão.
Enquanto um grita e outro geme, os demais soluçam e
sussurram, intentando mesmo alguns soerguer a cabeça ou estender
tremulamente uma mão como quem esmola. Na verdade, raros são os que se mantêm
anestesiados para todo o sempre, sem reclamarem a coroa, a palma, o mais
singelo ramo encomendado na véspera.
E é aí que Bela, a florista, acorda sobressaltada a meio da noite e,
com o coração a sair-lhe do peito, logo desce à cave da loja para confirmar se
os arranjos estão lá, confecionados de acordo com as indicações dadas pelos
clientes: as rosas dobradas e brancas, os lírios roxos, as giribérias, os
antúrios, os crisântemos...
Porém, as
piores noites acontecem quando, de regresso à cama, as súplicas não deixam de
se ouvir até ao raiar da manhã. É de enlouquecer!
Lisboa, 26 de março, 2015
«À memória de Raúl Brandão.», eis o retinir (que não a campainha d"O Mandarim") capaz de voltear a liça: oportuna, será sempre a homenagem, bem merecida, mas o volteio dos "flashes", mais acima, melhor os compreenderia embebidos no inovador lirismo pré-surrealista do Escritor portista, mas a nossa Bela florista existencialista dirá, certamente e a seu tempo, de sua encantadora Justiça!
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