Flashes no Cais das Colunas: a louca que interrompe
bruscamente o seu andar sem tino para morder, com raiva, um grande pepino
tirado da carteira sebenta; o “ musga “, desdentado, aspirando cheio de fé um
charro; uns quantos homens dobrados pela cintura, catando na lama minhocas uma
a uma.
Os sem abrigo e sem nome, espalmados nas pedras
soalheiras como animais de sangue frio; os três ciganos a impingirem anéis,
cordões, relógios, pistolas de alarme e a ilusão da erva ser marroquina.
A repentina invasão de pequenos e rápidos japoneses
saídos de um auto - pullman, com a câmara em punho. Dois ou três disparos
cegos, e já está: contra o cristo rei e a ponte, que ainda é cedo para o pôr do
sol. Depois, sucederá a corrida para o veículo que os trouxe, como se
fossem ameaçados por um tarzan carteirista.
Daqui a pouco hão de voltar a fazer fogo para os
mesmos alvos. Mas desta vez entrincheirados nas muralhas do castelo de s. Jorge.
Quanto aos quatro jovens engravatados, impingindo deus
aos incautos transeuntes, por que não os leva satanás pelo mar fora?
Lisboa,
1996
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