terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Le Figaro, o próprio



 









Grafite-Lisboa,2016


1  -  Acabou-se o filão? Cava mais fundo!
2  -  Diz-se de uma viúva alegre muito mais do que de um viúvo
3  -  A crença em deus e a limpeza da casa é com a minha governanta.
4  - Se na tua rua não houver mais ninguém a fotografar, és o melhor!
5  - Ser mau é melhor que nada!
6  - Cão que morde está vivo.
7  - Soltas o periquito e ele morre!
8  - Não pesco nem caço: domestico
9  - A morte de um grande cozinheiro é sempre difícil de digerir
10 - Nem os feios são todos iguais
11 - Só depois de abrires a torneira é que deves pegar no sabonete
12 - O busílis do segmento de reta é o segmento!
13 - Quantos dias passados fazem história?
14 - Levo todos os sonhos a sério
15 - Dois e dois são quatro ou vinte e dois?
16 - Há dias com mais ou menos horas
17 - Como é complicado ser simples
18 -  Menos Foie Gras. E mais Cocktails Molotofs
19 - A história não se repete para quem nunca viu reprises
20 - Penso no Inverno o Verão que foi e será.
21 - Recuar um passo é uma coisa; cair no abismo é outra
22 - Entende-se a Lei de Lavoisier, mas a Lei Seca...
23 - Chego à noção de exagero através da caricatura
24 - A perfeição não passa de uma palavra trissilábica
25 - Regulas o relógio, nunca o tempo!
26 - Quando não tiveres nada a dizer, inventa


sábado, 21 de outubro de 2017

Flashes



Flashes no Cais das Colunas: a louca que interrompe bruscamente o seu andar sem tino para morder, com raiva, um grande pepino tirado da carteira sebenta; o “ musga “, desdentado, aspirando cheio de fé um charro; uns quantos homens dobrados pela cintura, catando na lama minhocas uma a uma.

Os sem abrigo e sem nome, espalmados nas pedras soalheiras como animais de sangue frio; os três ciganos a impingirem anéis, cordões, relógios, pistolas de alarme e a ilusão da erva ser marroquina.

A repentina invasão de pequenos e rápidos japoneses saídos de um auto - pullman, com a câmara em punho. Dois ou três disparos cegos, e já está: contra o cristo rei e a ponte, que ainda é cedo para o pôr do sol. Depois, sucederá a corrida para o veículo que os trouxe, como se fossem ameaçados por um tarzan carteirista.

Daqui a pouco hão de voltar a fazer fogo para os mesmos alvos. Mas desta vez entrincheirados nas muralhas do castelo de s. Jorge.

Quanto aos quatro jovens engravatados, impingindo deus aos incautos transeuntes, por que não os leva satanás pelo mar fora?


                                                                                                                            Lisboa,  1996




Redes Assassinas



Estendem-se no chão como lençóis ao sol, a poucos passos de rústicos ancoradouros onde atracam as embarcações, quando não mesmo em terreno aberto, ainda dentro do perímetro de uma ou outra aldeia à borda de água.

São as redes mosqueteiras que muito têm contribuído para a diminuição populacional das enguias adultas, estimulando na sua falta a oferta dos aquaristas...

Lamentável é que a tão evidente exposição das redes, conhecidas por assassinas entre os populares, não acabe por mobilizar as autoridades a agir sobre quem logra obter chorudos rendimentos, ao utilizá-las na proibitiva captura do meixão: a migradora enguia bebé, nascida no Mar dos Sargaços.

Mas por que razão não se arranca de vez a faixa que venda os olhos da justiça? E ainda: a espada e a balança ?
                                         
                                                                                                                 Lisboa, 2015

1 comentário:
Ainda a campanha não arrancou já o meu iluminado camarada se coloca na pole position para ministro da agricultura e pescas e quiçá acumulando com o ministério da justiça. Cuidado, olhe que o amigo Costa anda por aí coaptando a rara gente que fala alto e não têm medo do coelho da páscoa!
Pudesse o meixão votar e era garantido!!!    


Bela, a florista




                                                                             À memória de Raúl Brandão.


Enquanto um grita e outro geme, os demais soluçam e sussurram, intentando mesmo alguns soerguer a cabeça ou estender tremulamente uma mão como quem esmola. Na verdade, raros são os que se mantêm anestesiados para todo o sempre, sem reclamarem a coroa, a palma, o mais singelo ramo encomendado na véspera.

E é aí que Bela, a florista, acorda sobressaltada a meio da noite e, com o coração a sair-lhe do peito, logo desce à cave da loja para confirmar se os arranjos estão lá, confecionados de acordo com as indicações dadas pelos clientes: as rosas dobradas e brancas, os lírios roxos, as giribérias, os antúrios, os crisântemos...

Porém, as piores noites acontecem quando, de regresso à cama, as súplicas não deixam de se ouvir até ao raiar da manhã. É de enlouquecer!

                                                                       Lisboa, 26 de março, 2015